O que está por trás das falas de Trump
Nas últimas semanas, o presidente Donald Trump voltou a colocar em evidência a chamada “desnaturalização” – processo legal para retirar a cidadania de americanos naturalizados – ao mencionar o bilionário Elon Musk, o candidato eleitoral Zohran Mamdani e a atriz Rosie O’Donnell. A iniciativa faz parte de um esforço mais amplo de sua administração para endurecer políticas de imigração, mas esbarra em obstáculos jurídicos e em tradições históricas de uso restrito dessa medida.

O que Trump disse?
- Elon Musk: Questionado sobre a possibilidade de deportar o homem mais rico do mundo, Trump respondeu: “Não sei, teremos que dar uma olhada.” Musk, naturalizado em 2002, é nascido na África do Sul.
- Zohran Mamdani: Ao criticar o candidato muçulmano de Nova York, Trump afirmou que precisaria “prendê-lo” caso desobedeça a agentes de imigração, insinuando que Mamdani estaria no país ilegalmente. Na realidade, Mamdani, nascido em Uganda, se naturalizou em 2018.
- Rosie O’Donnell: Em post no Truth Social, o presidente chamou a atriz nascida em Nova York de “ameaça à humanidade” e disse estar “considerando seriamente” revogar sua cidadania, algo que, segundo especialistas, não tem fundamento legal para quem é cidadão nato.
Como reagiram Musk, Mamdani e O’Donnell?
- Elon Musk retrucou no X (antigo Twitter): “Tão tentador escalar isso… mas vou me conter por enquanto.”
- Zohran Mamdani repudiou as declarações em entrevista, classificando-as como distrações políticas e ressaltando seu papel como possível primeiro prefeito imigrante, muçulmano e de origem sul-asiática de Nova York.
- Rosie O’Donnell usou o Instagram para chamar Trump de “rei Joffrey com bronzeado de spray” e afirmar que “nunca foi dele para silenciar”.
Qual é o cenário da desnaturalização nos EUA?
- Entre 1990 e 2017, a média anual de casos de desnaturalização foi de apenas 11 processos, em sua maioria contra criminosos de guerra que ocultaram passados nazistas.
- Na primeira gestão Trump, o Departamento de Justiça chegou a anunciar 1.600 casos a serem encaminhados, mas só 100 processos foram efetivamente movidos.
- Em sua volta à Casa Branca, Trump reabriu o escritório dedicado ao tema e o assessor Stephen Miller prometeu um programa “turbinado” de desnaturalizações.
O que a lei exige?
Para que um naturalizado perca a cidadania, o governo deve provar, em tribunal federal, por “prova clara e convincente”, que o cidadão:
- Obteve a naturalização de forma ilegal, ou
- Omitiu ou mentiu sobre fato relevante durante o processo.
No caso de cidadãos natos – como Rosie O’Donnell – a Constituição só permite a perda da cidadania por renúncia voluntária ou morte.
Quais as chances de Trump levar adiante essas ameaças?
Especialistas apontam que muitos dos comentários de Trump são reações a perguntas de repórteres, sem planos formais definidos. Nos processos anteriores, o volume prometido de casos nunca se confirmou na prática. Além disso, a alta dificuldade de provar irregularidades e as defesas robustas dos citados tornam improvável que Musk ou Mamdani sejam efetivamente desnaturalizados.
Embora as ameaças de revogação de cidadania atinjam pessoas de grande visibilidade, elas ajudam a entender como o debate político americano usa temas de imigração para mobilizar opiniões. A desnaturalização segue sendo uma medida rara e restrita, mas reforça a importância de acompanhar o cenário jurídico dos EUA – um alerta para quem busca vivenciar o “sonho americano” com segurança e informação.