A recente demissão da chefe do Departamento de Estatísticas do Trabalho (BLS) pelo governo Trump, após a divulgação de números de emprego abaixo do esperado, levantou preocupações sobre uma possível politização dos dados econômicos americanos. Embora não haja provas de manipulação, o fato de a Casa Branca indicar um aliado político para o cargo aumentou a desconfiança de analistas e investidores.
A história já mostrou os riscos desse caminho. Grécia e Argentina falsificaram estatísticas no passado e enfrentaram sérias consequências: perda de credibilidade, fuga de investidores e crises financeiras mais graves. No caso grego, números maquiados sobre déficit e dívida ajudaram a inflar a crise de 2008, enquanto na Argentina a manipulação da inflação manteve o país afastado dos mercados por anos.

A diferença é que os Estados Unidos são a maior economia do mundo, com impacto direto em praticamente todos os países. Qualquer dúvida sobre a confiabilidade de seus indicadores pode abalar não só Wall Street, mas também o financiamento de governos e empresas em escala global.
O governo americano, por outro lado, argumenta que a mudança busca aumentar a precisão das estatísticas, após revisões recentes que mostraram falhas no modelo do BLS. “As famílias e empresas precisam de dados confiáveis para tomar decisões”, justificou a Casa Branca.

Ainda assim, especialistas alertam que não existe substituto para dados transparentes e confiáveis, já que eles servem como referência global. E, mesmo que seja improvável repetir os cenários da Grécia ou Argentina, a percepção de risco já é suficiente para deixar os mercados em alerta.
Por enquanto, o peso institucional dos EUA e a existência de outras fontes oficiais — como o Census Bureau e o Bureau of Economic Analysis — servem como garantia de que a integridade dos números ainda está preservada. Mas o episódio abriu um debate incômodo: até que ponto os dados econômicos podem resistir à pressão política?
