Boston se torna palco de resistência em defesa da dignidade imigrante
Na última semana, diversas cidades dos Estados Unidos foram palco de protestos massivos contra as operações de imigração conduzidas pelo ICE (Immigration and Customs Enforcement), referente ao Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas dos EUA. As manifestações ganharam força após relatos de batidas, detenções em massa e deportações sumárias de imigrantes indocumentados – muitos deles vivendo há anos no país, com trabalho fixo, família formada e raízes profundas nas comunidades locais.Os protestos aconteceram em grandes centros urbanos como Seattle, Austin, Washington, D.C., e Boston – onde a presença brasileira é especialmente significativa.
Boston: resistência com sotaque brasileiro
Em Boston, centenas de pessoas se reuniram em frente ao escritório regional do ICE, em Burlington Avenue, para denunciar o que chamam de “perseguição institucionalizada” contra trabalhadores e famílias imigrantes.
“Estamos aqui não apenas por nós, mas pelos nossos filhos. Não somos criminosos. Somos trabalhadores, somos parte dessa sociedade”, disse uma das manifestantes, uma brasileira residente em Everett há 11 anos.
Organizações locais como o Brazilian Women’s Group, a Centro Presente e redes de apoio comunitário convocaram os protestos por meio das redes sociais, igrejas e grupos de WhatsApp. Em poucos dias, centenas de imigrantes — brasileiros, salvadorenhos, haitianos, guatemaltecos e muitos outros — responderam com presença, cartazes e vozes firmes.
“A ameaça da deportação não nos cala. Pelo contrário: nos fortalece. Nós somos parte da força que move este país”, declarou um líder comunitário de Somerville.
O medo cresce, mas a organização também
Os protestos ocorrem em meio a um aumento das operações-surpresa do ICE, que miram pessoas com ordens de deportação, mas frequentemente afetam famílias inteiras, inclusive crianças nascidas nos Estados Unidos.
Casas têm sido monitoradas. Trabalhos interrompidos. Famílias desfeitas em questão de minutos.
Em Boston, relatos indicam que vans não identificadas foram vistas circulando em bairros com forte presença imigrante, como Framingham, Chelsea e Revere. O clima é de tensão mas também de solidariedade.
“Eles querem que a gente tenha medo. Mas a gente está aprendendo a ter voz”, afirmou uma jovem estudante brasileira presente no protesto.
A luta é por dignidade, não apenas por permanência
Mais do que pedir regularização ou anistia, os manifestantes reforçam uma pauta de respeito e humanidade. Eles denunciam a forma como os imigrantes — especialmente os latinos e brasileiros — são tratados como mão de obra descartável.
“Construímos casas, limpamos escritórios, cuidamos de crianças americanas. Mas quando precisamos de dignidade, viramos números em planilhas de deportação”, dizia um dos cartazes mais compartilhados nas redes.