Nem sempre desistir significa ir embora. Às vezes, significa parar de tentar por dentro.
Tem gente que ainda está aqui, mas já desistiu há muito tempo.
Desistiu de aprender o idioma.
De sonhar.
De se cuidar.
De acreditar que algo pode melhorar. Desistir não é quando a pessoa vai embora.
É quando ela continua… mas vai embora de si mesma.
Esse erro tem nome: autoabandono
Não é fácil perceber.
O auto abandono não chega de uma vez.
Ele vai chegando devagar…
Ele não grita.
Ele sussurra.
Nas entrelinhas do cansaço.
No volante, na faxina, na espera do Zelle que ainda não caiu.
No cheque de duas semanas de trabalho… que não é pago

“Essa é a rotina que ninguém mostra: mas muita gente vive todos os dias.”

Você começa a pensar:
- “Tem gente bem pior… vou seguir.”
- “Pra quê tentar, se nunca é suficiente?”
- “Isso não é pra mim, não sou daqui.”
- “Melhor aceitar como tá, é o que tem.”
- “Já tô velho(a) para mudar alguma coisa agora.’
Auto Abandono é quando você para de se escolher.
É quando você começa a cuidar de todo mundo: menos de você.
É quando você se exclui, mesmo estando presente.
Comportamentos comuns de quem está se anulando aos poucos
- Sente culpa por fazer muito e ainda assim ouvir que nunca é o suficiente para os familiares no Brasil.
- Se compara com todo mundo nas redes, e se sente pequeno diante de uma felicidade que parece sempre estar acontecendo na vida dos outros.
- Ao ver outros com uma mudança de status ou estabilidade financeira, se pergunta: “Estou aqui há mais de 20 anos e ainda não conquistei nada?”
- Se isola porque perdeu a fé na própria comunidade: seja a igreja, os amigos, os grupos, os brasileiros
- Evita se olhar no espelho ou fazer planos, porque prefere não encarar as frustrações.
- Pensa que “isso é tudo o que tem pra hoje”! E, aos poucos, vai desistindo de amanhã.
Isso acontece com muita gente (e não é fraqueza)
A maioria dos brasileiros que recomeçaram aqui passa por esse momento.
Alguns só não têm palavras pra explicar.
Outros já se acostumaram com a dor, e chamam de “é a vida”.
Ou seja, um conjunto de comportamentos silenciosos que te colocam sempre por último.
Mas a verdade é:
Você não precisa aceitar o cansaço como seu endereço fixo.

Você merece mais do que sobreviver.
Você merece pertencer, crescer, sentir orgulho da sua história: mesmo que ela esteja cheia de recomeços.
Não é tarde. Não é impossível. Não é só com você.
Você ainda pode se reconstruir: mesmo se tiver que fazer isso em silêncio.
- Aprender a se escutar.
- Validar o que sente sem se julgar.
- Estabelecer limites, mesmo com quem você ama.
- Praticar a autocompaixão.
- E, se puder, não carregue tudo sozinho. Buscar apoio pode ser o primeiro passo para voltar a cuidar de si.
Se esse artigo falou com você, eu gostaria muito de saber.
📝 Me conta nos comentários ou, se preferir, envie sua história ou sugestão de tema.
Talvez o que você viveu também possa ajudar outras pessoas a não desistirem de si.
Na próxima semana: vamos falar sobre uma dor silenciosa que muitos ignoram, mas que carrega muito mais peso do que imaginamos:
O luto migratório.
A perda invisível de tudo aquilo que você teve que deixar para trás…
E que ninguém te ensinou a viver.

