Ninguém me avisou que eu teria que chorar o que perdi, mesmo sem ter enterrado nada.
Você se lembra do filme Ghost?
Aquela cena em que o personagem morre, mas por alguns segundos continua ali, vendo tudo ao redor, mas sem conseguir tocar em nada?
Muitas pessoas descrevem dessa forma a sensação de chegar aos Estados Unidos pela primeira vez.
O avião toca o solo… mas sua alma parece ter ficado suspensa no ar.

O primeiro impacto que ninguém te prepara
Você desce do avião. Tudo é novo!
Você não fala a língua.
Precisa de Wi-Fi no aeroporto para avisar que chegou.
De um número de telefone.
De alguém que diga:
“Vamos nessa operadora.”
“Vamos nesse banco.”
“Você trouxe entrada para comprar um carro? Porque aqui não dá para andar sem.”
Aí vêm os primeiros passos:
Um quarto alugado.
Um trabalho indicado por alguém que você mal conhece.
Um horário de trabalho que te deixa cansado demais para pensar.
E então começa um luto silencioso.
Não é apenas pelo país que ficou.
É pela vida que acabou mesmo você estando vivo.
Cuidado: você está vivo! Mas pode estar adoecendo sem perceber.
Muitos brasileiros entram num modo automático de sobrevivência.
Trabalham doze ou quatorze horas por dia tentando fugir do luto, justificando tudo pelo dólar.
Acreditam que se ocuparem a mente, o corpo e o tempo, a saudade vai passar mais rápido.
Mas o corpo cobra. A mente avisa. O coração enfraquece.
Você não precisa se matar de trabalhar para esquecer o que perdeu.
Você precisa de tempo, apoio e cuidado.
Assistência gratuita em Massachusetts
Se você mora em Massachusetts e ainda não tem convênio médico, existe um serviço gratuito e humanizado que pode te orientar em português.
RISE Multicultural Services
(617) 333-8580
Eles nos ajudam a entender, organizar e acessar o sistema de saúde nos Estados Unidos, inclusive com opções de convênio odontológico (pago, mas acessível), de forma clara, acolhedora e sem julgamento.
Viver nos EUA sem convênio pode custar mais do que você imagina.
E você merece cuidar da sua saúde!
Sinais de que você pode estar vivendo esse luto
• Sente saudade do que nem sabe explicar;
• Sente saudade dos familiares;
• Fica com um nó na garganta em aniversários ou datas comemorativas;
• Chora com vídeos do Brasil e nem sempre entende o motivo;
• Sente raiva ou ciúmes de quem ficou e parece seguir a vida normalmente;
• Sente culpa por não estar lá, mesmo fazendo o melhor que pode aqui;
• Evita contar que está triste, porque todos dizem que você deveria estar grato.

Cinco formas de atravessar o luto migratório com mais consciência
1. Valide o que sente. Diga em voz alta: “Estou com saudades.” Só isso já muda muita coisa por dentro.
2. Crie momentos afetivos. Prepare uma comida, ouça uma música, vivencie suas lembranças com carinho. Você não precisa abrir mão do seu arroz com feijão. Você pode, sim, sentir que pertence ao lar que está construindo.
3. Fale com alguém de confiança. Pode ser um amigo, conselheiro, terapeuta… ou até alguém novo que está chegando agora. Permita-se criar novas conexões.
4. Quando doer demais, escreva para você mesmo. Abra uma conversa no seu WhatsApp, desabafe. Escreva o que está sentindo. Coloque para fora.
5. Mesmo que só para você. Nomear a dor é parte da cura.
O luto migratório não é fraqueza. É humano.
Você não está sozinho.
Você não é ingrato.
Você não está errado por sentir saudades de tudo — até do que te fez sair.
E agora que tem nome, pode ter caminho.
Você está vivendo um processo emocional que nunca foi nomeado.
Você pode respeitar a dor sem se afundar nela.
Pode carregar a saudade e ainda assim seguir e aos poucos.
E se você escolheu recomeçar, seja por necessidade, sonho, amor ou sobrevivência, saiba que essa escolha já é um sinal de força.

Uma nova oportunidade, mesmo que cheia de incertezas, pode abrir caminhos que você jamais imaginou.
O recomeço, por mais assustador que pareça, também carrega o poder de transformar quem você está se tornando.
E o mais bonito é que você já começou.
E se esse artigo falou com você, eu gostaria muito de saber.
📝 Me conta nos comentários, ou se preferir, envia sua história ou sugestão de tema.
Talvez o que você viveu também possa ajudar outras pessoas a não se sentirem sozinhas no meio do caminho.
Na próxima semana: Vamos falar sobre um desafio silencioso de quem vive fora do seu país e como reconstruir sua autoestima e sua identidade sem perder a sua essência.


3 Comentários
Quanta verdade em um artigo. Muitos passaram por isto, porém como uma amiga minha sempre diz: “aTUDO PASSA”. Dê tempo ao tempo e as coisas vão melhorar. Você está no país das oportunidades ❤️
É isso! Um sofrimento e confusão por sentir o luto mesmo sendo algo que na maioria das vezes era um sonho. Não é fácil a vida de quem escolheu ou teve que ser imigrante. Excelentes colocações Miriam! Parabéns!
Estou amando sua coluna! Como você expõe com clareza, suas sugestões de “ cura”… parabéns por acolher e abordar um assunto que, geralmente é varrido pra baixo do tapete.