Quando o corpo fala, mas a mente sofre
Imigrantes brasileiros muitas vezes enfrentam desafios únicos ao lidar com mudanças de vida, pressão no trabalho e saudade de casa. Essas experiências podem intensificar o que a psicologia chama de Transtorno de Sintomas Somáticos (TSS), uma condição em que a pessoa concentra-se de forma excessiva em sensações físicas, como dor ou cansaço, gerando angústia e dificuldades no dia a dia.
O que é o Transtorno de Sintomas Somáticos?
O TSS caracteriza-se por:
- Foco intenso em sintomas físicos (dor, falta de ar, fadiga)
- Preocupação exagerada com a gravidade desses sintomas
- Busca frequente por médicos, mesmo após descartados problemas graves
- Impacto significativo na qualidade de vida, podendo levar a afastamento do trabalho ou de atividades sociais
Não importa se você realmente tem uma doença diagnosticada, o que define o TSS é a forma como você interpreta e reage aos sinais do próprio corpo.
Sinais e comportamentos comuns
Pessoas com TSS costumam:
- Achar que todo desconforto indica algo sério
- Sentir-se insatisfeita com resultados de exames ou explicações médicas
- Preocupar-se com cada pequeno sintoma (formigamento, dor de cabeça, palpitação)
- Evitar atividades físicas por medo de “piorar” a condição
- Conferir constantemente o corpo em busca de “anormalidades”
- Sofrer impacto emocional, com ansiedade, irritabilidade ou tristeza
Esse ciclo de preocupação e busca por garantias alimenta ainda mais a angústia.
Por que isso acontece?
Não há uma única causa para o TSS, mas fatores de risco podem incluir:
- Tendência genética ou maior sensibilidade à dor
- Aprendizado familiar, quando parentes dão atenção exagerada a sintomas
- Traumas anteriores (p. ex., acidentes, doenças graves ou violência)
- Ansiedade e depressão, que podem amplificar a percepção corporal
- Dificuldade de processar emoções, transformando sensações emocionais em dores físicas
Para quem imigra, as tensões de adaptação – novo trabalho, barreira linguística, saudade – podem intensificar o foco no corpo como uma “saída” para emoções difíceis de nomear.
Complicações e impacto no dia a dia
Sem tratamento, o TSS pode levar a:
- Afastamento do trabalho e prejuízo financeiro
- Dependência de cuidados médicos, gerando gastos e cansaço
- Isolamento social, pelo medo de “não estar bem”
- Comorbidades como depressão, transtorno de ansiedade ou até risco aumentado de suicídio
Cuidar da mente, portanto, é essencial para aliviar o corpo.
Tratamento e estratégias de enfrentamento
- Avaliação médica completa: importante descartar causas físicas antes de focar na dimensão psicológica.
- Terapia cognitivo-comportamental (TCC): ajuda a identificar e modificar pensamentos catastróficos sobre sintomas.
- Técnicas de relaxamento: respiração diafragmática, atenção plena (mindfulness) e meditação reduzem tensão muscular e ansiedade.
- Atividade física moderada: caminhadas, ioga ou pilates melhoram a confiança corporal e liberam endorfinas.
- Diário de sintomas: anotar hora, intensidade e situações associadas ajuda a reconhecer padrões emocionais.
- Suporte social e grupos de apoio: conversar com outras pessoas que vivenciam o TSS ou desafios de imigração gera solidariedade e troca de estratégias.
Dicas para familiares e amigos
- Reconheça a dor: evite dizer “é só na cabeça” — a experiência é real e merece acolhimento.
- Estimule o tratamento psicológico: ofereça-se para ajudar a marcar consultas ou acompanhar a pessoa.
- Equilibre apoio e limites: demonstre cuidado, mas incentive a autonomia e a participação em atividades cotidianas.
- Cuide de si mesmo: o papel de cuidador pode ser exaustivo; reserve momentos para seu próprio bem-estar.
O Transtorno de Sintomas Somáticos mostra como corpo e mente estão profundamente conectados. Para imigrantes brasileiros em Massachusetts, entender essa condição pode ser um passo importante para buscar ajuda, reduzir o sofrimento e retomar o prazer em viver. Com orientação profissional, autocuidado e apoio social, é possível ressignificar as dores e reencontrar o equilíbrio entre saúde física e emocional.
