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Deportado para um país que nunca conheceu

A história de Jermaine Thomas, o americano sem pátria

Jermaine Thomas, 39 anos, nasceu em uma base militar dos Estados Unidos na Alemanha, filho de pai americano e mãe queniana. Cresceu na Flórida, viveu no Texas, fala inglês e nunca tinha colocado os pés na Jamaica, até ser deportado para lá. 

Hoje, vive em um abrigo para pessoas em situação de rua em Kingston, sem documentos, sem cidadania e sem qualquer conexão real com o país. Considerado legalmente “apátrida”, Thomas foi deportado sob a alegação de que era cidadão jamaicano, após um histórico criminal e uma sentença de 30 dias por invasão de propriedade no Texas. O ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas dos EUA) ignorou sua condição e o embarcou para um destino onde ele nunca viveu e que não o reconhece como cidadão.

Uma vida nos EUA, um erro na papelada

Jermaine nasceu em 1986 em um hospital militar dos EUA em Frankfurt, Alemanha. Seu pai, cidadão americano e veterano do Exército, cuidava da papelada. Um erro burocrático, segundo familiares, o classificou como jamaicano em um formulário de visto quando ele retornou aos Estados Unidos aos 3 anos de idade. A família nunca questionou sua cidadania. Afinal, ele era filho de um americano, nascido em base militar.

A partir da adolescência, Thomas enfrentou uma série de dificuldades: pobreza, instabilidade, problemas de saúde mental e passagens pela justiça por delitos como posse de drogas, roubo e violência doméstica. Após cumprir pena, em 2008, foi detido pela imigração, mas liberado depois que seu pai apresentou os documentos. Em 2013, recebeu um aviso formal de que poderia ser deportado.

A brecha jurídica que o deixou sem país

A defesa de Thomas argumentou que ele era cidadão americano por ser filho de um cidadão e nascido em uma base militar dos EUA. Mas uma decisão da Suprema Corte em 2016 negou esse direito. O tribunal considerou que bases militares no exterior não contam como “território americano” para fins de cidadania. Para piorar, seu pai não havia vivido tempo suficiente nos EUA antes do nascimento para que a cidadania fosse transferida automaticamente, segundo a lei da época.

Assim, Thomas caiu em um limbo jurídico: não é reconhecido como cidadão por nenhum país, nem EUA, nem Alemanha, nem Jamaica, nem Quênia.

Prisão, deportação e exílio

Após ser preso por invasão de domicílio em fevereiro de 2024, cumpriu uma pena de 30 dias. No fim da sentença, foi transferido para a custódia do ICE. Um supervisor teria dito que ele apenas mudaria de unidade, mas, em maio, Thomas foi colocado à força em um voo com destino à Jamaica. Chegou com a roupa do corpo, cercado por agentes armados.

Hoje, ele vive sem documentos, sem acesso legal a trabalho ou moradia. Apesar de ter sido acolhido com respeito pela população local, Thomas relata barreiras de idioma, dificuldades com o sistema local e uma sensação constante de estar “em alerta”. Sem medicação adequada para seu transtorno mental, ele se sente cada vez mais vulnerável.

Um caso que escancara falhas no sistema

Especialistas afirmam que casos como o de Thomas são raros, mas crescentes. A advogada de imigração Betsy Fisher destaca que os Estados Unidos não são signatários das convenções da ONU sobre apatridia, o que dificulta a proteção legal a pessoas nessa situação. Em sua visão, trata-se de um fracasso legislativo: “bastaria vontade política para corrigir isso”.

O caso de Thomas também levanta questionamentos sobre o tratamento dado a filhos de militares, especialmente após a morte dos pais. Ele resume: “Quero que todos que servem ao governo saibam que isso pode acontecer com seus filhos quando eles morrerem, mesmo depois de terem servido esse país com honra.”

Zimny Magazine

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