A caminho da 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, o tradicional protagonismo do Brasil corre o risco de ser comprometido. Uma parte significativa da comitiva brasileira ainda não obteve os vistos necessários para entrar nos Estados Unidos, o que levou o governo brasileiro a apresentar uma queixa formal à ONU e despertou um sinal de alerta entre as lideranças internacionais.
Entre acordos diplomáticos e atrasos inusitados

Ao longo de quase sete décadas, o Brasil inaugurou os discursos da Assembleia Geral da ONU — uma tradição iniciada em 1955 e que se manteria neste ano com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abrindo as falas no plenário em Nova York. No entanto, a permanência desse ritual depende agora de uma decisão ágil por parte do governo dos Estados Unidos, que até o momento não aprovou os vistos de todos os integrantes da delegação brasileira.
Os atrasos levaram o Ministério das Relações Exteriores a recorrer ao Comitê de Relações com o País Sede da ONU, um canal diplomático utilizado por países que encontram obstáculos logísticos ou políticos impostos pela nação que abriga a sede da organização — neste caso, os Estados Unidos.
A posição da ONU: “situação preocupante”
O porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric, não deixou dúvidas ao ser questionado por jornalistas: “É, sim, uma situação preocupante. Esperamos que os vistos sejam emitidos a tempo”. Em sua fala, Dujarric lembrou que os EUA, como país anfitrião da organização, têm obrigação legal, segundo o Acordo de Sede de 1947, de garantir a entrada de delegações de nações-membro para compromissos oficiais.
Ainda de acordo com as declarações da ONU, não se trata apenas de questões administrativas, mas de responsabilidade internacional. O Itamaraty, por sua vez, ressaltou que, se necessário, poderá acionar um processo arbitral previsto pelo próprio acordo entre a ONU e os Estados Unidos.
Risco à diplomacia e à representatividade

Em equipe reduzida ou com ausências de última hora, a atuação de uma delegação oficial pode ser comprometida. Para o Brasil, isso implicaria não apenas um impacto simbólico, mas também limitações práticas em reuniões multilaterais, encontros paralelos e negociações diplomáticas que exigem a presença de ministros, assessores e diplomatas qualificados.
O episódio reacende o debate sobre o equilíbrio entre política migratória e compromissos internacionais. Se até delegações diplomáticas enfrentam incertezas no processo de entrada, a pergunta que surge é: como garantir que acordos internacionais sejam respeitados em sua plenitude, sobretudo quando envolvem temas sensíveis como circulação internacional, diálogo entre países e cooperação multilateral?
O silêncio dos EUA e as expectativas
O Departamento de Estado dos EUA ainda não se pronunciou oficialmente sobre a lentidão na emissão desses vistos específicos. A expectativa é que, diante da repercussão internacional e da pressão institucional da ONU, uma solução seja apresentada nos próximos dias.
Faltando menos de uma semana para o início dos trabalhos em Nova York, o risco de constrangimento diplomático permanece — e, com ele, o alerta sobre a importância de estruturas consulares previsíveis, respeitosas e eficientes no cenário global.
