O presidente brasileiro participa da Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira (23) enquanto a crise com os Estados Unidos se aprofunda após a condenação de Bolsonaro pelo STF.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chega a Nova York para participar da Assembleia Geral das Nações Unidas em um dos momentos mais tensos das relações Brasil-Estados Unidos dos últimos anos. A crise diplomática ganhou contornos dramáticos após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF), gerando uma série de retaliações por parte da administração Trump.
As tensões se manifestam não apenas no plano diplomático, mas também em questões práticas que afetam o cotidiano de quem vive nos Estados Unidos, onde as políticas de imigração se intensificaram e a instabilidade econômica gera preocupações.
Por que as relações diplomáticas estão em crise?
A deterioração das relações tem raízes políticas e econômicas bem definidas. Em julho, Donald Trump anunciou tarifas de 50% sobre quase 10 mil produtos brasileiros, uma medida que o presidente americano justificou como resposta à suposta “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro.
Paralelamente, o governo americano aplicou sanções ao ministro do STF, Alexandre de Moraes, por meio da Lei Magnitsky – um instrumento legal usado para punir estrangeiros acusados de violações de direitos humanos. A justificativa oficial foi a alegada censura a plataformas digitais de direita, incluindo a Rumble, empresa ligada ao grupo Trump.
Em resposta, Lula publicou um artigo de opinião no The New York Times no último domingo (14), classificando as ações americanas como “ilógicas” e reafirmando que “a democracia e a soberania brasileiras são inegociáveis”.
Quais são os impactos práticos da crise?
As tensões diplomáticas têm reflexos concretos. A “Operação Patriota 2.0”, intensificação das ações da Agência de Imigração e Alfândega (ICE) em Boston e outras cidades com políticas de proteção, exemplifica como questões geopolíticas se traduzem em realidade local.
Desde o início da operação, mais de 100 pessoas foram detidas no estado. A prefeita de Boston, Michelle Wu, criticou duramente a falta de transparência da agência federal e prometeu medidas legais para proteger os moradores da cidade.
“Isso não torna nossa comunidade mais segura”, declarou Wu, reforçando que a polícia municipal não irá colaborar com as ações federais de imigração, conforme estabelece a Boston Trust Act de 2014.
No campo econômico, a agência de classificação Moody’s alertou para possíveis reversões nas exceções tarifárias que beneficiam setores como aeronaves, petróleo e suco de laranja. Essas mudanças podem impactar:
- Taxa de câmbio: A instabilidade política tende a pressionar o real, afetando remessas e investimentos
- Pequenos negócios: Empresários que dependem de importações brasileiras enfrentam incertezas sobre a viabilidade de seus empreendimentos
- Investimentos: A deterioração das relações bilaterais pode afetar a confiança de investidores em projetos que envolvem os dois países
O que esperar da viagem de Lula?
Além da participação na Assembleia Geral da ONU, Lula deve marcar presença na Cúpula do Clima no dia 24, quando apresentará propostas relacionadas à COP30, que será realizada em Belém em novembro. O presidente brasileiro tradicionalmente usa esses fóruns para defender o multilateralismo e criticar ações unilaterais.
A agenda de Lula em Nova York representa uma oportunidade de diálogo, mas as perspectivas de melhora nas relações a curto prazo parecem limitadas. O Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, indicou em entrevista que o governo Trump anunciará nos próximos dias medidas em resposta à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro.
